sexta-feira, 5 de junho de 2015

48 horas

Descobri tem 48 horas. Mas há bem mais de  2 dias que o vírus do HIV está no meu sangue. Na verdade, não sei quando foi. Nem com quem foi. Como foi, eu tenho certeza: relação sexual sem camisinha.
Tenho 23 anos. Sou homossexual. Nunca usei drogas, nem cigarro, bebo muito raramente. Estou terminando a faculdade de Engenharia Civil. E passei o começo do ano querendo curtir e procurando alguém especial. Para isso, baixei esses aplicativos de busca de parceiros e saí com alguns. Na tentativa de fazer o outro se sentir bem, mais confortável, eu acabava negligenciando a camisinha. Na cama, até passava na minha cabeça o problema que isso poderia acarretar, mas eu acreditava que aquele rapaz não teria nada. A gente sempre pensa que não vai acontecer com a gente. Foi o que acarretou nisso tudo. Com alguns parceiros, foi só uma vez. Com outros, ainda mantenho amizade, mas não tenho coragem de me abrir quanto a esse problema e nem de avisar que ele pode ter tido também. De fato, o que me dá muito medo é de ter me contaminado pelo HIV e então ter transado com outros. Como eu não sei quem foi, pode ter sido o primeiro do ano, ou o último. E se foi o primeiro? A maior culpa no momento é essa.
Eu sei que, até outubro de 2014, eu não tinha. Fiz o exame naquela época, porque transava com meu ex-namorado sem camisinha e, com o término do namoro e uma provável traição, eu fiquei com muito receio. Não-reagente ao HIV. Foi uma felicidade.
De lá pra cá, fiz muita besteira, e o resultado mudou.

Dia 03 de junho de 2015:
Eu fui ao CTA - Centro de Testagem e Diagnóstico - sozinho. Cheguei às 11 horas. Fui porque eu estava com muito receio, e um amigo meu de São Paulo me lembrou que é bom eu fazer o teste para trazer tranquilidade à cabeça. Não foi bem isso que aconteceu. Mas pelo menos agora eu posso saber do problema que existe em mim. Ele existiria, de qualquer maneira, eu sabendo ou não. Então é melhor eu compreendê-lo para que eu possa enfrentá-lo da maneira correta. Cheguei lá e tive que preencher uma ficha com meus dados. Só havia uma pessoa na minha frente. Entrei na sala da coleta e a enfermeira me tratou muito bem. Na verdade, todo mundo do CTA parecia muito simpático, conversava comigo, me tratava muito bem. A enfermeira furou então meu dedo e pingou uma gota nos três equipamentos - HIV, Sífilis e Hepatite Viral. Com o pingar de um soro, se mudasse a cor do sangue em algum equipamento, é porque eu teria um desses vírus. Fui para a sala de espera. Eram várias cadeiras, umas 4 filas de cadeiras. Eu estava na primeira fila, a mais próxima da televisão. Passava Encontro com Fátima Bernardes, debate sobre o preconceito racial. Na sala tinha um menino jovem esperando o resultado, um outro rapaz, mais velho, e um casal. Tanto o jovem quanto o mais velho receberam o resultado em uma sala com a placa escrita Aconselhamento na porta. Na minha vez, uma outra menina me chamou no Consultório Médico. O nome dela era Darliane. Eu estava com muito medo. Medo. Achei estranho me chamarem nessa sala. Ela pediu pra eu sentar e começou a fazer algumas perguntas: Com quantos parceiros você teve relação sexual? Fuma? Bebe?
Eu logo perguntei: deu algum problema?
Sim.
- Mas foi com o pior?
HIV


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